Modiano: um escritor longe dos "grandes alaridos"
"Nunca o conheci pessoalmente, é um homem muito avesso a viagens e a encontros sociais. Convidei-o várias vezes a vir a Portugal, para os lançamentos dos livros, mas nunca foi possível. Mas conheci-o através das leituras, já nos anos 80", conta Manuel Alberto Valente, satisfeito mas não completamente surpreendido com este Nobel. "Sempre achei que era uma voz completamente distinta no panorama da literatura europeia e que, mais cedo ou mais tarde, seria reconhecido." O primeiro livro que editou de Patrick Modiano foi Domingos de Agosto, ainda na Dom Quixote. Depois publicou-o na Asa e mais recentemente na Porto Editora.
O que mais distingue este escritor, diz Manuel Alberto Valente, é a sua temática: "Praticamente aborda sempre o mesmo tema, que é a memória e a importância que a memória tem na vida do ser humano, o que conduz para um subtema também recorrente, que é a ocupação de Paris durante a Segunda Guerra Mundial." O editor dá como exemplo disto mesmo o romance Dora Bruder. "A obra gira sempre em torno desta obsessão com a memória, esta é a sua marca criativa mais pessoal."
Além disso, sublinha, a crítica francesa também costuma referir-se ao seu estilo de escrita como uma "pequena música". "Não é um autor de grandes alaridos. A sua escrita é antes como uma música suave. É uma voz muito elegante, subtil e discreta. Não é um autor que atraia multidões, está muito longe do troar de tambores que caracteriza muita da literatura contemporânea", comenta.
Quanto a novas edições em Portugal de Modiano, Manuel Alberto Valente não pode avançar quando haverá: "Espero que tenhamos oportunidade de continuar a revelar as obras deste fantástico autor".